Caminhando ou deitadas na maca, todas as vítimas da Covid-19 (novo coronavírus) am pelas mãos de fisioterapeutas. Pacientes infectados encontram nos hospitais de Porto Velho e do Estado de Rondônia o apoio desses profissionais indispensáveis ao tratamento e recuperação da doença.
Até sexta-feira (25), a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) computava mais de 64,4 mil casos confirmados da Covid-19, dos quais, 56,2 mil recuperados. Antes, durante e depois de seus angustiantes momentos do contágio, todos foram atendidos e avaliados por esses profissionais.
São eles que recebem as pessoas nas salas de atendimento, enfermarias e quartos hospitalares, iniciando procedimentos clínicos aos quais se unem técnicos, enfermeiros e médicos.
O fisioterapeuta há sete anos no Centro de Medicina Tropical (Cemetron), Ariel Souza Santos Felipe, comemora as vitórias da equipe, sobretudo a vida. Alguns colegas dele foram atacados pelo vírus, mas de maneira leve, porém, continuaram socorrendo seus pacientes durante 24 horas.
“Já enfrentei a crise da malária, a campanha contra a gripe H1N1 (suína) e agora a Covid-19, que é um Deus nos acuda, mas nos trouxe lições e fortaleceu a união de nossos esforços”, comenta.
Quando Ariel Felipe iniciou o seu trabalho no Cemetron, a equipe tinha apenas sete profissionais nessa área. Hoje dispõe de 31. Entraram 24 emergenciais desde o início da pandemia, para atender a duas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), enfermaria, e o novo bloco com pacientes exclusivos do coronavírus.
Acelerar a recuperação de pacientes. Este é o desafio que esse fisioterapeuta sente necessidade de enfrentar. “O paciente deve sentir menos dores fortes, menos sedação, ou que tenha sequelas pós-internação”, explica Ariel Felipe.
PROCEDIMENTOS
Para combater esses sintomas é necessário que sejam adequados os parâmetros respiratórios, ajustando a frequência respiratória, o volume corrente, a pressão positiva (que mantém os pulmões em boas condições), entre outros.
Num misto de entusiasmo emoção, Ariel relata o trabalho da equipe: “Somos o único hospital do Estado que oferece terapias respiratórias para o servidor contaminado, para que ele volte mais rapidamente ao trabalho; graças a Deus, aqui, nenhum deles foi a óbito”.
Segundo Ariel, duas técnicas são determinantes nesse aspecto: a Ventilação Não Invasiva (VNI) e a pronação (a pessoa é colocada de bruços). Pacientes em leitos ficam conectados a respiradores artificiais, enquanto são atendidos por profissionais de saúde protegidos por roupas e máscaras especiais.
“Esse procedimento evita o acúmulo de secreção na base do pulmão, reativa às vias aéreas e reduz a carga cardíaca. Temos feito isso à exaustão, usando a máscara face shield, que cobre todo o rosto do paciente e garante o sucesso da não entubação”, acrescenta.
Em maio deste ano, o fisioterapeuta Rodrigo Campos, ex-diretor do Centro de Reabilitação de Rondônia (Cero), lembrava que há muito tempo a fisioterapia intensiva não estava em evidência como hoje se encontra.
IMPORTANTES NAS ENFERMARIAS
“A fisioterapia também é importantíssima nas enfermarias, onde contribui na melhoria da qualidade de vida e na redução do tempo médio de internação hospitalar”, diz o fisioterapeuta Eduardo Santos, que trabalha no Hospital de Campanha de Rondônia Zona Leste, em Porto Velho. Esse hospital funciona no antigo Cero, no bairro Mariana.
Quando o paciente é infectado pela Covid-19, o trabalho do fisioterapeuta é agir para recuperar o paciente o mais rápido possível, diminuindo a necessidade de medicamentos e entubação, principalmente o risco de sequelas após a internação.
Eduardo explica como funciona o atendimento fisioterápico em tempos de Covid-19. “Primeiramente, o fisioterapeuta faz uma avaliação do sistema respiratório do infectado para verificar, principalmente, a troca gasosa da respiração, uma função principal do sistema respiratório, e com isso, identificar o nível de esforço e o nível de e ventilatório necessário, tanto para a ventilação não invasiva como para a ventilação invasiva”.
“Se caso a infecção for leve e o paciente estiver com boa oxigenação em ventilação espontânea ao ar livre, não é necessário auxílio externo na respiração, mas é fundamental o monitoramento constante da evolução do quadro, já que há risco de complicação acelerada. Se a infecção evoluir para um caso de insuficiência respiratória, torna-se necessária a intervenção, primeiramente dos dispositivos de oxigenoterapia (máscara não reinalante ou máscara de VNI ventilação não invasiva), ou até mesmo cateter nasal.Assim, o paciente já a a receber uma fração inspirada de oxigênio mais enriquecida, pois o ar ambiente tem apenas 21% de oxigênio”, ele diz.
Já a fisioterapia pulmonar possibilita os chamados exercícios respiratórios e motores ativos. “O exercício respiratório é um conjunto de técnicas que podem ser preventivas ou curativas, e visam mobilizar secreções, melhorar oxigenação do sangue, promover reexpansão pulmonar, diminuir o trabalho respiratório, reeducar a função respiratória e prevenir complicações”, explica o fisioterapeuta Eduardo Santos.
FUNÇÕES MOTORAS DO PACIENTE
Cerca de 20% a 60% dos pacientes internados na UTI desenvolvem fraqueza muscular generalizada relacionada ao imobilismo. Desta maneira, a fisioterapia motora tem como objetivo criar condições mais favoráveis às funções motoras do paciente, evitando contraturas, deformidades, encurtamentos musculares, melhorando a força muscular e a independência para as atividades da vida diária.
“O atendimento nas unidades de internação é realizado seguindo as orientações de paramentação e desparamentação, assim os profissionais recebem treinamento e orientações constantes oferecidas pela instituição”, diz.
Segundo o fisioterapeuta Eduardo, o coronavírus pode causar uma inflamação muito grande nos pulmões, afetando diretamente a troca gasosa e, por isso, os pacientes entram em falência respiratória muito rapidamente.
O procedimento fisioterapêutico divide-se em duas áreas: a motora e a respiratória. Motora normalmente é a mais conhecida. No caso da Covid-19, a respiratória tem grande importância dentro da UTI, conforme explica Eduardo.
“É onde começamos a fazer uma avaliação do padrão ventilatório do paciente; se ele está com esforço, se precisa de e ventilatório maior, nós recorremos à oxigenoterapia”, detalha.
PÓS-COVID-19
A fisioterapia pós-Covid-19 também é especial para o profissional dessa área. “É a transição do tratamento, quando o paciente deixa de necessitar de auxílio mecânico para a respiração, e nesse estágio ele deve retomar sua autonomia para voltar a respirar sozinho. Na segunda fase entra a fisioterapia motora, para que ele recupere a força muscular perdida durante o tratamento, além da melhoria na higiene brônquica, até que, por fim, seja possível a respiração normal sem nenhum auxílio”.
Eduardo recomenda que, mesmo depois de recuperado e da alta hospitalar, o paciente faça exercícios respiratórios, principalmente devido à possibilidade de sequelas. Segundo ele, é possível que alguns pacientes apresentem limitações respiratórias, desenvolvendo um quadro de fibrose pulmonar e até necessitem de assistência ambulatorial.
A fisioterapia contribui para atenuar os sintomas provocados pela doença. “Pacientes de terapia intensiva, especialmente os que estão em e ventilatório, são os que requerem maior vigilância”, diz Eduardo.
“O fisioterapeuta auxilia na vigilância ventilatória e também elabora estratégias que reduzem o tempo no respirador bem como suas complicações; por isso digo que ela é também importante nas enfermarias, onde assegura melhoria da qualidade de vida e na redução do tempo médio de internação hospitalar”, acrescenta.