Uma mulher que prestou concurso para agente da Polícia Federal, pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos, da Universidade de Brasília (Cespe/ Cebraspe), em 2018, está sendo acusada nas redes sociais de ter fraudado as cotas raciais do exame. Fotos de Glaucielle da Silva Dias, que circulam na internet como tendo sido feitas para garantir a classificação, são diferentes das postadas por ela atualmente.
A Polícia Federal informou à TV Globo que “apura as circunstâncias do caso”. Na última segunda-feira (14), a exoneração de Glaucielle da Silva Dias foi publicada no Diário Oficial da União. Segundo os advogados Rinaldo Mouzalas e Valberto Azevedo, a própria concursada pediu o afastamento.
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De acordo com os advogados de Glaucielle, as fotografias que determinaram a cor da candidata, durante a seleção, foram tiradas pelo próprio Cespe. “A banca responsável pelo exame de heteroidentificação era composta por cinco examinadores, todos integrantes de movimentos negros”, aponta a defesa (veja íntegra da nota mais abaixo).
O Cespe afirma que não tirou fotos. “O Cebraspe não tira fotos na etapa de heteroidentificação, essa etapa ocorre presencialmente e é gravada em vídeo no momento em que está acontecendo”, explica.
O órgão responsável pelo concurso disse que a banca “avalia se o candidato possui características físicas de uma pessoa negra, por meio da verificação da textura dos cabelos e da cor da pele, entre outras”. Segundo o órgão, o procedimento é feito por pessoas “com experiência em políticas públicas de enfrentamento ao racismo” (leia íntegra da nota ao final da reportagem).
Fotos de Glaucielle da Silva Dias compartilhadas nas redes sociais — Foto: Instagram/Reprodução
Na quarta-feira (16), os advogados afirmaram que a jovem é “filha de empregada doméstica, membro de uma humilde família de negros do interior do Rio de Janeiro”. Após o caso, Glaucielle publicou um vídeo nas redes sociais onde diz que nunca escondeu que teve o ao concurso por cotas (veja abaixo).
“Sempre sofri preconceito por minha aparência, por conta da cor, pelo cabelo, por causa do nariz”, diz Glaucielle no vídeo.
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Examinadores ‘sensibilizados’
Segundo os advogados, Glaucielle Dias se declarou negra no concurso e citou a “difícil história familiar”. Eles afirmam que os detalhes sensibilizaram a banca.
“Tendo comparecido presencialmente ao exame, quando se declarou negra e narrou a sua difícil história familiar, [a candidata] sensibilizou os examinadores”, dizem os advogados de Glaucielle.
Foto de Glaucielle da Silva Dias que circula nas redes sociais — Foto: Reprodução
A defesa aponta ainda que Glaucielle estudou em escola pública e precisou trabalhar para pagar a faculdade particular. A nota afirma que a candidata não teve o a lazer ou a “cuidados de beleza” durante um ano e sete meses, período em que se dedicou ao concurso da PF.
Eles apontam que algumas imagens nas redes sociais “possuem filtros que estariam mascarando a real aparência da cliente”. Os advogados explicam que “[a defesa] utilizará de todos os meios disponíveis para responsabilizar estes infratores pelos atos ilícitos cometidos”.
Advogados de Glaucielle Dias emitiram nota onde afirmaram que ela é ‘filha de empregada doméstica, membro de uma humilde família de negros do interior do Rio de Janeiro’ — Foto: Reprodução
Nota do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos, da Universidade de Brasília (Cespe/ Cebraspe)
“O Cebraspe informa que todos os candidatos do concurso para a Polícia Federal (PF) que concorreram às vagas reservadas aos candidatos negros, que fizeram a autodeclaração no momento da inscrição e que foram aprovados nas provas se submeteram ao procedimento de heteroidentificação complementar à autodeclaração. Esse procedimento consiste basicamente na análise do fenótipo do candidato: a banca avalia se o candidato possui características físicas de uma pessoa negra, por meio da verificação da textura dos cabelos, da cor da pele, entre outras. Esse procedimento é feito por banca composta por cinco membros, todos com experiência em políticas públicas de enfrentamento ao racismo. Para garantir a lisura do procedimento e evitar fraudes, os editais possuem uma regra que traz a possibilidade de eliminação do candidato quando se constata que a autodeclaração feita no momento da inscrição é falsa.
Ainda sobre o caso citado, compete ao Cebraspe observar a legalidade dos procedimentos relacionados ao concurso público e garantir as informações e documentos necessários para eventual apuração de crime. Havendo suspeita ou denúncia de que fraude tenha ocorrido, o que cabe a este Centro é enviar todas as informações necessárias à apuração para a polícia, que procederá com as investigações.
O Cebraspe reforça, ainda, que repudia tentativas de fraudes que maculem o sistema de cotas para negros.”