*Existem situações na vida em que parece que o destino está a pregar “peças” na gente. Outras seriam cômicas, não fosse um aviso de tragédia anunciada. Outras, de tão esdrúxulas só rindo mesmo.
*Foi o que aconteceu com este repórter durante 24 horas inesquecíveis. Estava escalado para cobrir o Rally Internacional Bolpebra, com saída de Rio Branco (AC) no inicio da manhã de quarta-feira(25), com destino final em Cuzco no Peru. Prova válida pelo campeonato latino americano da categoria.
*Tudo acertado com patrocinadores, aporte na mão, leitores ansiosos por notícias da maior prova Off Road da Amazônia. Parecia tudo certo. A matéria vislumbrava ainda a oportunidade para este jornalista compartilhar experiências com profissionais respeitados da mídia nacional que estariam trabalhando na prova.
*Comprei uma agem na GOL Linhas Aéreas. Apesar do recente acidente em que 154 pessoas morreram à bordo de uma aeronave da companhia, não tenho medo ou receio de voar. Nem na GOL. A aviação é realmente segura. Normas e diretrizes reguladas em convenções internacionais garantem a tranqüilidade do usuário.
*O que eu não sabia era o grau de desorganização e falta de competência de “colaboradores” da empresa.
*Explico:
*Este “abestalhado” repórter comprou o bilhete 00021273042361 para o vôo 1939, com saída prevista para a 1h35 da manhã da quarta-feira. Cheguei no horário. Com um “piriri”, provavelmente ocasionado pela ansiedade, o “babaca” aqui, foi ao banheiro do aeroporto.
*De lá, ouvi o último chamado. Sai correndo para o embarque. Quando cheguei no saguão, uma fila de ageiros estava formada. Entrei na dita cuja.
*Na portaria, uma bonita atendente checou o bilhete deste e me encaminhou ao avião. Entrei na aeronave, minha poltrona a 18-A estava desocupada e sentei.
*Na seqüência encontrei uma revista de bordo e me entreti com a leitura. Sou assim mesmo, leio até bula de remédio e instruções de uso com letras miúdas.
*Após mais de meia hora de vôo, uma aeromoça pelo sistema de som do Boeing pediu para o ageiro Paulo Andreoli se identificar. Levantei a mão, enquanto um frio percorria minha espinha. O que pode ter acontecido pensei.
*A chefe de cabine de prenome Anamaria veio ao meu encontro, com um sorriso amarelo ou irônico, sei lá. Com a representante da companhia, a péssima notícia. Eu tinha sido embarcado no vôo errado e seguia para Manaus.
*Meu queixo caiu e fiquei com cara de bobo (redundância). Alguns ageiros que desconheço a identidade fizeram umas piadas sem graça (pelo menos para mim). Fui motivo de pilhéria no avião da GOL. Segundo AnaMaria, os casos de embarque de ageiros para destinos errados não é tão inédito como imaginei.
*De acordo com a aeromoça, “os casos são mais freqüentes do que o senhor imagina”. Perguntei se a empresa não possuia um controle de quem embarca na aeronave. Ela disse que não.
*Achei a resposta estranha e que demonstra uma falha de segurança gritante da GOL. Sim porque no contexto, eu estava “clandestino” no vôo e se eu fosse um terrorista? O comandante da aeronave, piloto Daniel Henrique mostrou na prática a falta de segurança e controle do avião que “comanda”.
*Cheguei a Manaus por volta de 2h50. Fui encaminhado ao balcão da companhia. A supervisora Madalena informou que eu teria que aguardar o próximo vôo para Porto Velho, as 23h50.
*Questionei e apresentei uma solução. Um vôo da RICO Linhas Aéreas sai de Manaus às 7h, com previsão de chegada em Rio Branco às 8h40 ( hora local). Se me embarcassem, eu poderia honrar meu compromisso profissional com a organização da prova e o que é mais importante, com os milhares de leitores deste jornal. Sugestão negada.
*Fui encaminhado de táxi (pago pela GOL) só com a roupa do corpo para o Hotel Tropical (luxo). Já eram 5h10. Na recepção fui informado que eles não sabiam do meu caso e que a companhia não tinha enviado o “Voucher” ( confirmação de reserva e relação de serviços oferecidos). Fiquei mais meia hora na recepção, quando a moça que me atendia, após contato com a GOL, disse que estava liberado, minha estadia e uma refeição.
*No hotel a refeição custa R$ 49,00. Isso mesmo. Na cabeça de algum executivo da Gol eu que me lixasse e só comesse uma vez no dia até eu voltar para casa. Questionei novamente e fui dormir. O dia já tinha clareado.
*Quando acordei, um bilhete atirado por baixo da porta informava que tinha sido liberada duas refeições e ainda, num gesto humanitário, minhas despesas com água também seriam pagas. Mesmo assim, tive que comprar material básico de higiene (pasta, escova e desodorante)
*Às 22h, um táxi foi me buscar no hotel de bacana. No aeroporto Eduardo Gomes, registrei uma ocorrência na ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil com o número 434/AEG/06. Informações colhidas por este repórter, dão conta que a GOL é recordista de reclamações no SAC do aeroporto.
*Na hora de retirar o bilhete, outra situação de embaraço. Queriam me embarcar para Rio Branco. Não tinha mais nada para fazer no Acre. Perdi o trabalho e meu compromisso moral com os leitores. Só queria voltar para casa. Concordaram.
*Que alívio! Depois de mais de 22 horas de constrangimento voltava para casa. Mas a alegria durou apenas o tempo de vôo. Ao aterrisar em Porto Velho, fui ao balcão da companhia e um rapaz muito solícito, me informou que minha bagagem tinha sido embarcada para o Acre. Deu vontade de explodir de raiva. A falta de gerência e competência voltou a dar as caras na empresa que se assemelha num grande coletivo dos ares. (Fui injusto com os ônibus, porque até neles, uma pessoa sai contando os ageiros antes da saída da Rodoviária.)
*Novamente me dirigi à ANAC. Novo registro foi feito com o número 149/APV/06.
*No balcão fui informado também que minha agem para Rio Branco não pode ser ressarcida. Isso nós vamos discutir na Justiça.
*Para os que conseguiram chegar até o final desta novela com requinte de dramalhão mexicano fica o alerta. A companhia não é organizada. Existem claras falhas de segurança. Alguns funcionários são incompetentes e podem ocasionar outras tragédias, como a do vôo 1907.
*Ao chegar em casa e colocar a cabeça no travesseiro, dei graças a Deus, afinal após ficar sob responsabilidade da GOL por mais de 24 horas, eu ainda estou vivo. Em se tratando de GOL, posso me considerar no lucro.
*Aos leitores minhas desculpas. A cobertura do Rally Bolpebra fica para o ano que vem.
*OBS: Ao retirar minha bagagem na tarde de hoje, a empresa pediu para eu um recibo de entrega de bagagem. No corpo do documento, um parágrafo em que eu desistiria de qualquer ação contra a companhia. Recusei a . Sim, porque posso parecer bobo, mas é só a cara e o jeitão de andar. Vou processar a indulgente companhia aérea. Ainda volto ao assunto.
* O autor é empresário e bacharel em comunicação social.